Revisão narrativa da literatura
A revisão narrativa da literatura busca responder questões de pesquisa mais amplas, a partir de um viés assumido por quem pesquisa e, normalmente, não justifica a escolhas das fontes. Esse método é adequado para a fundamentação teórica em teses, dissertações, monografias e artigos científicos (CORDEIRO et. al, 2007; ROTHER, 2007).
A ideia central do uso da revisão narrativa é apresentar uma discussão sobre questões mais amplas, a partir de fontes e pesquisas, para atualizar leitores e leitoras sobre um tema específico, normalmente mais amplo, a partir de elementos escolhidos pela autoria. Por isso seu viés, não se trata da coleta e análise sistemática de dados, mas antes, de uma escolha deliberada de elementos de pesquisa com o objetivo de responder questões mais amplas a partir de escolhas subjetivas feitas pela autoria.
Objetivos comuns a esse método de pesquisa se referem a discutir temas, evidenciar elementos e apresentar contextos. A abordagem utilizada também é importante, uma vez que as diversas correntes epistemológicas têm diferentes representações/visões da realidade, dessa forma: uma análise crítica como abordagem dialética, uma visão mecanicista com abordagem positivista, a compreensão holística como uma abordagem da teoria da complexidade. Todas são abordagens validas e devem ser apresentadas na metodologia, para deixar ciente leitores e leitoras do viés impresso no estudo.
Mesmo não sendo uma abordagem tida como sistemática (CORDEIRO et. al, 2007; ROTHER, 2007), é importante levar em consideração a descrição clara de como as escolhas foram efetuadas. Para tanto, no que se refere a escrita científica, o uso de diagramas pode auxiliar no entendimento das escolhas e tomada de decisão, quando associado a abordagem de pesquisa e a tipologia da pesquisa.
O artigo de Antunes, Nascimento e Queiroz (2017), tem por objetivo “apresentar uma discussão crítica acerca da história do conceito de sustentabilidade”. Para isso, se recorre aos principais eventos oficiais mundiais e as autorias que impactam a construção dos documentos oficiais acerca do tema (ANTUNES; NASCIMENTO; QUEIROZ, 2017).
De acordo com o objetivo de pesquisa construído para a investigação através da análise narrativa, outro aspecto metodológico importante reside na definição clara do tipo de pesquisa que se está a realizar.
A partir da ideia de tipos lógicos de pesquisa explorada por Volpato (2015), que tem por base a pesquisa experimental, transpomos essas ideias para a pesquisa teórica, em vistas a possíveis definições de tipos de pesquisa que podem ser realizados a partir da revisão narrativa:
- Pesquisa descritiva, que não requer hipótese de pesquisa, que não tem como objetivo relacionar outros temas, mas antes apresentar um retrato do tema a ser explorado para caracterizar temas novos e pouco explorados;
- Pesquisa de associação sem interferência, em que hipóteses são elaboradas para facilitar o estudo, tendo como foco explorar os diversos contextos em que o tema abordado se relaciona, podendo usar da comparação, mas sem interferência entre os contextos;
- Pesquisa de associação com interferência, em que o tema tem relação direta com outros temas e sua associação é fundamental para compreender a realidade abordada no estudo, ele toma por base as interrelações, a partir da interferência direta dos contextos a serem explorados, contudo a relação normalmente não é absoluta, em que os temas podem interagir de forma concomitante.
Resumindo, uma análise narrativa de literatura, pode se constituir em um método de pesquisa com maior validade interna e externa de pesquisa ao apresentar de forma clara a leitores e leitoras as escolhas e vieses próprios da autoria. Para isso, a escrita da seção de metodologia deve bem elaborada e, a título de recomendação, pode conter: Tipos de fontes utilizadas (jornais, artigos, teses), abordagem de pesquisa (materialista, holística, estruturalista), descrição clara das escolhas que podem ser feitas por meio de diagramas (ver Figura 01) e explicação da tipologia de pesquisa empregada (pesquisa descritiva, pesquisa de associação sem interferência, pesquisa de associação com interferência).
Referências
ANTUNES, Jeferson; NASCIMENTO, Verônica Salgueiro do; QUEIROZ, Zuleide Fernandes de. Narrativa crítica acerca do desenvolvimento sustentável: Quais relações podemos estabelecer? REMEA, n. 2, v. 34, 2017. Disponível em: https://periodicos.furg.br/remea/article/view/6930. Acesso em: Acesso em: 10 set. 2020.
CORDEIRO, Alexander Magno; OLIVEIRA, Glória Maria de; RENTERÍA, Juan Miguel; GUIMARÃES, Carlos Alberto.. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro , v. 34, n. 6, p. 428-431, Dec. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912007000600012&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 10 set. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912007000600012.
ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 20, n. 2, p. v-vi, June 2007 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002007000200001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 10 set. 2020.
VOLPATO, Gilson Luiz. O método lógico para a redação científica. RECIIS, n. 9, v. 1, 2015. Disponível em: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/932/1577. Acesso em: 10 set. 2020.
Vídeo
Esse conteúdo é parte das ações de formação de cientistas do Mestrado Profissional em Educação da Universidade Regional do Cariri (MPEDU/URCA) do Ceará (CE). Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Funcap por financiarem esse produto educacional.
Como citar:
(ANTUNES; TORRES, 2023)
Como referenciar:
ANTUNES, Jeferson; TORRES, Cicero Magerbio Gomes. Formação científica. In: Revisão narrativa da literatura. Formação científica. Crato, 26 jun. 2023. Disponível em https://formacaocientifica.com.br/?p=64. Acesso em: dd mm ano.

Pós-doutorando em educação (MPEDU), Doutor em Educação (UFC), Mestre em Desenvolvimento Regional sustentável (UFCA), Licenciado em História (URCA).