Revisão sistemática da literatura
A revisão sistemática da literatura difere da revisão integrativa e da revisão narrativa pela amplitude das perguntas de pesquisa que visa responder, ela não compreende apenas a reunião de informações, mas acompanhar o percurso de construção do conhecimento científico específico, apresentando novas lacunas e direcionamentos para o esclarecimento de importantes temas do campo estudado (GOMES, CAMINHA, 2014). Esse tipo de estudo tem como finalidade a identificação de estudos sobre a questão proposta, através de uma busca sistematizada, avaliando a qualidade desses estudos e a sua aplicabilidade (GOMES, CAMINHA, 2014).
Suas etapas são rigorosas, sistemáticas, devendo ser explicitadas ponto-a-ponto na escrita da metodologia da sua pesquisa. Cada tomada de decisão sobre pesquisa, bases de dados, critérios de inclusão e exclusão de estudos, extração de dados e síntese dos resultados deve ser rigorosamente justificada e descrita.
Na primeira fase é formulada uma questão de pesquisa que ajude a delimitar os dados a serem recuperados nas bases de dados, essa questão não pode ser específica demais, por reduzir as possibilidades de materiais a serem recuperados; nem ampla demais, por ser limitativa quanto a aquisição de estudos (DONATO, DONATO, 2019).
A pergunta de pesquisa apresentada no artigo “Aproximações entre neurociências e educação: uma revisão sistemática” foi: O principal questionamento que ficou desta década, gira em torno de como a Neurociência pode subsidiar a Educação, de forma a melhorar o ensino-aprendizagem em sala de aula (FERREIRA; GONÇALVES; LAMEIRÃO, 2019). As autorias buscam então, na recuperação da literatura sobre o assunto, pesquisas do campo da neurociência que contribuam de forma positiva com a relação ensino-aprendizagem (FERREIRA; GONÇALVES; LAMEIRÃO, 2019).
Na segunda fase se estabelece um protocolo de revisão sistemática, apresentando a forma como será realizada a revisão, os termos utilizados na pesquisa, bases de dados consultadas, os critérios de inclusão e exclusão, a forma como os dados serão extraídos dos manuscritos e a avaliação de qualidade dos estudos (DONATO, DONATO, 2019). Um protocolo descreve o processo de pesquisa para obtenção de dados, justificando cada uma das escolhas realizadas, para tornar replicável o estudo. Bons protocolos deixam claro também como os estudos serão sintetizados, bem como podem se guiar por uma lista de checagem de itens, garantindo que todos estudos analisados tenho um padrão de similaridade (DONATO, DONATO, 2019; GALVÃO, PANSANI, HARRAD, 2015). O protocolo utilizado deve ser apresentado, na forma de anexo, no trabalho publicado.
A fase três envolve delimitar os critérios de inclusão e exclusão, apresentados no protocolo, a partir da pergunta de pesquisa, levando em consideração elementos como: idioma, método de pesquisa, território, quantidade de citações, ano de publicação, entre outros (DONATO, DONATO, 2019).
O fundamento principal da revisão sistemática de literatura é uma pesquisa exaustiva dos estudos acerca do tema investigado, essa é a quarta fase de uma revisão sistemática e, para isso, a seleção de bases de dados nos auxilia a encontrar estudos mais relevantes, uma vez que, para se estabelecer em algumas bases de dados existem uma série de critérios de avaliação que as revistas, que publicam artigos, devem preencher (DONATO, DONATO, 2019). Muitas vezes você acaba por se surpreender, com mais de mil estudos na área, isso torna a tarefa de realizar uma revisão sistemática de conteúdo muito complexa, uma primeira opção é refinar a pergunta de pesquisa, de forma a incluir mais especificidades; outra maneira é a escolha de uma base de dados confiável, que apresenta uma menor quantidade de trabalhos, mas com um tratamento mais específico, de forma a apresentar estudos mais relevantes.
Na quinta fase se dá a seleção dos estudos, uma vez recuperados da base de dados, apenas uma pequena porção acaba por fazer parte da revisão sistemática (DONATO, DONATO, 2019; GOMES, CAMINHA, 2014). Uma primeira forma de reduzir esses estudos é a leitura do título, palavras-chave e resumo dos estudos, para garantir que estes estejam ligados a pergunta de pesquisa que se almeja responder (DONATO, DONATO, 2019). Esse é um momento de seleção e filtragem, a partir dos elementos estabelecidos no protocolo de pesquisa, usando todos os critérios possíveis de inclusão e exclusão para selecionar o que é realmente relevante para sua pesquisa.
A sexta fase requer a avaliação da qualidade dos estudos, ao qual existem diversos instrumentos ou pode ser realizada pela autoria, a partir do estabelecimento de critérios que são informados no protocolo de pesquisa e que podem ser avaliados por outras pessoas que auxiliam no processo de pesquisa (DONATO, DONATO, 2019). Esse processo visa garantir que os estudos analisados são consistentes, se, por exemplo, a pesquisa apresenta um cálculo de população apropriada, segue os métodos que se dispõem a utilizar, apresenta cálculos estatísticos corretos, não apresenta inferências impossíveis ou exageradas. Em suma, a qualidade da pesquisa está ligada diretamente, no mínimo, aos objetivos de pesquisa a que se propõem e a metodologia apresentada, assim, se você avalia que o estudo segue as duas premissas, certamente este é um estudo de alguma qualidade.
Na sétima fase você vai extrair os dados necessários de cada um dos documentos selecionados, a partir de todos os critérios eleitos até aqui, podendo apresentar esses dados em uma tabela (muito comum), na fase oito descrevendo cada um dos estudos escolhidos a partir dos elementos que estão ligados a sua pergunta de pesquisa (DONATO, DONATO, 2019).
A última fase, fase nove, envolve a redação científica, a escrita da revisão sistemática de literatura (ou revisão sistemática de conteúdo, ou ainda, revisão sistemática), apresentando a questão de pesquisa, o protocolo utilizado, justificando suas escolhas, a síntese e descrição dos dados coletados e, sua avaliação e interpretação dos dados (DONATO, DONATO, 2019).
Esse é um método exaustivo, em que o processo de pesquisa e escrita trabalham com uma variedade muito ampla de informações, de forma sistemática, para se produzir um estudo que possa dar conta de responder uma pergunta de pesquisa que contribua para um campo específico do conhecimento.
Referências
DONATO, Helena; DONATO, Mariana. Etapas na condução de uma revisão sistemática. Acta Médica Portuguesa, v. 32, n. 2, fev., 2019. Disponível em: https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/11923/5635. Acesso em: 11. Set. 2020.
FERREIRA, Hercio da Silva; GONÇALVES, Tadeu Oliver; LAMEIRÃO, Soraia Valéria de Oliveira Coelho. Aproximações entre neurociências e educação: uma revisão sistemática. Revista Exitus, v. 9, n. 3, p. 636-662, 2019.
GALVÃO, Taís Freire; PANSANI, Thais de Souza Andrade; HARRAD, David. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: A recomendação PRISMA. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 24, n. 2, p. 335-342, June 2015 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222015000200335&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 11 set. 2020.
GOMES, Isabelle Sena; CAMINHA, Iraquitan de Oliveira. Guia para estudos de revisão sistemática: uma opção metodológica para as Ciências do Movimento Humano. Movimento, v. 20, n. 1, jan./mar., 2014. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/41542/28358. Acesso em: 11 set. 2020.
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Esse conteúdo é parte das ações de formação de cientistas do Mestrado Profissional em Educação da Universidade Regional do Cariri (MPEDU/URCA) do Ceará (CE). Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Funcap por financiarem esse produto educacional.
Como citar:
(ANTUNES; TORRES, 2023)
Como referenciar:
ANTUNES, Jeferson; TORRES, Cicero Magerbio Gomes. Formação científica. In: Revisão sistemática da literatura. Formação científica. Crato, 26 jun. 2023. Disponível em https://formacaocientifica.com.br/?p=57. Acesso em: dd mm ano.
Pós-doutorando em educação (MPEDU), Doutor em Educação (UFC), Mestre em Desenvolvimento Regional sustentável (UFCA), Licenciado em História (URCA).